quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Depoimentos impactantes no Congresso de Lausanne

Desde que cheguei, notei uma quantidade de cadeiras separas num local, sem que ninguém se sentasse nelas. Num auditório completamente cheio, não consegui entender o porquê daquelas cadeiras ali, vazias. O programa da noite de hoje foi aberto pelo grupo de referência do Comitê de Lausanne, do qual faz parte o brasileiro Valdir Steuernagel. Seu líder, Doug Birdsall, informou-nos que a delegação da China de fato não teve a autorização do governo para fazer a viagem até a África do Sul. Recebi um pedido de oração na semana passada, explicando que estavam tendo dificuldades para conseguir o visto de saída. Li e apaguei. Não dei quase nenhuma atenção.

Hoje, Doug nos contou que aqueles irmãos têm sofrido com a perseguição à igreja protestante séria da China e que, mesmo impedidos de vir até aqui, estavam orando por nós e nos mandaram uma carta com alguns textos bíblicos (Fp 1. 29; IICo 6. 3-10; Tg 1. 19; Jô 6. 10; Sl 42) e uma gravação de seu coral cantando “O Amor do Senhor pela China”. Chorei muito, muito mesmo. Leia os textos, leia a letra da música, deixe a sua melodia penetrar no mais profundo do teu coração e tente sentir o soco do constrangimento, como senti hoje à noite.

Enquanto não me dou nem ao trabalho de ler com atenção a um pedido de oração de irmãos preciosos que têm dado a sua vida de fato para a proclamação do Evangelho, eles nos mandam uma carta de oração e uma música de clamor.

A PESSOA

A noite já estava para terminar suficientemente profunda e emocionante depois dos vídeos das igrejas asiáticas, dos testemunhos de pessoas perseguidas e da carta da igreja da China, quando entra uma menina no enorme palco principal do evento. Pequena, franzina, oriental. Aparentava 16 ou 17 anos. Depois de tanto impacto e de um dia bem cansativo, não dou muita atenção. A voz doce e firme da menina vai ganhando meus ouvidos quando diz que nasceu na Coreia do Norte e teve que fugir com a família pelo fato de seu pai estar sendo perseguido pela ditadura. Refugiados na China encontram-se com Cristo e se convertem. Sua mãe, grávida do segundo filho, morre de leucemia. Em seguida o pai é descoberto, detido, deportado e preso na Coreia. Ela fica
sozinha e é cuidada por um pastor americano e sua família, que residia na China.

Poucos anos depois, seu pai é solto e volta para a China. O tempo de prisão não arrefeceu a sua fé, pelo contrário, serviu como combustível para inflamar seu coração para continuar vivendo e transbordando sua fé na Coreia do Norte, seu país. Pediu que a filha continuasse por um tempo com a família da China para que ele levasse um carregamento de Bíblias para a Coreia. Ele o fez, mas foi novamente preso e, dessa vez, executado.

Uma menina de 17anos, completamente órfã.

Quando a família se preparava para voltar aos EUA, a menina teve um sonho onde via Jesus. Ele a dizia: “Gyeong Joo, não tenha medo. Eu estou contigo e quero que vá para a Coreia do Norte falar do meu amor. Por que ainda está esperando?” Ela acordou decidida a ficar na China e a se preparar para voltar para seu país, compartilhar o amor de Deus que alcançou e transformou sua família.

Pergunto-me. Depois de tanto sofrimento e desgraça, como uma menina tão nova, tão frágil, consegue ver a beleza do amor de Deus a ponto de entregar-se até às últimas consequências? Só quem conhece de fato esse amor saberá me responder.

Ela terminou dizendo: “Vou para a Coreia do Norte expressar o amor de meu Deus, honrar o sangue de meu pai e o de meu irmão, Jesus Cristo.”

Silêncio. Ela começa a chorar. O rosto de menina do início, que se transformou no de uma heroína enquanto contava sua história, voltou a ser rosto de menina enquanto chorava. Chorei junto com ela. Queria muito abraçá-la bem apertado, enxugar suas lágrimas e lavar seus pés. Um pastor chinês o fez e senti-me representado.

Escrevo ao lado de minha cama, mas não tenho coragem de deitar-me nela. Como um ato simbólico de honra aos meus irmãos chineses, vou me deitar e dormir essa noite no chão. Como ato simbólico de honra e amor pela pequena coreana, derramo as minhas últimas lágrimas da noite.

Gyeong Joo Son só tem 17 anos, mas o mundo não é digno dela.

Fonte: Portas Abertas / Gospel Prime
Tradução:
Fabrício Cunha

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